sábado, junho 09, 2007

A inveja, esse costume tão português.

A inveja é uma coisa muito feia, diz-se. É mentira. Desconfiem sempre de alguém que diz isso como se soubesse o que está a dizer. Se o diz assim é porque para ele a inveja é uma coisa mesmo feia e todos sabemos o apetite voraz que o ser humano tem para coisas feias. A bem dizer, é ignorante: confunde inveja com cobiça. A inveja não é uma coisa feia. Feia é a cobiça. Por exemplo: se cobiçar o talento de alguém é porque quero ser ele (ou ela) e se cobiçar a mulher dele (ou dela) é porque quero aquela mulher, mas se invejar o talento dele (ou dela) é porque quero ser como ele (ou como ela), é porque admiro essa pessoa e quero melhorar o suficiente para ao menos lhe chegar aos calcanhares. E se invejar determinado gajo pela mulher que tem é porque gostava de ter uma daquele género e não propriamente aquela, percebem?

E é bom admitirmos que temos inveja de alguém. Com este texto simplesmente provo que tenho uma certa inveja do Rui Zink, não por ter publicado livros, não por ser uma figura pública, não por ser professor, nem sequer pelo dinheiro que tem. Tenho uma certa inveja do Rui Zink pela maneira como escreve e sobre o que escreve. Só li um livro dele, é certo, mas gostei tanto daquela maneira simples, banal e terra-a-terra com que escreve que de certa forma me inspirou a fazer o mesmo: escrever as reflexões que vamos tendo ao longo dos dias que passam, sejam elas sobre o sentido da vida ou a diferença entre uma mini Sagres e uma mini Super Bock (Sagres 4ever).

Outro gajo de quem tenho uma inveja do caraças é o habitante deste espaço aqui. E habita este também, e este. António Pedro Valente Valente (não, não me enganei, é mesmo o nome dele, o que querem que eu faça?). E não o invejo por trabalhar para um dos principais jornais diários. Invejo-o pelo talento. Um talento tão grande que só é ultrapassado pela própria altura: um metro e noventa e tal, por contas baixas. Pensando bem, até na altura ele tem sorte, pois que maior pesadelo terá um repórter fotográfico que não seja não conseguir fotografar determinado evento por não ter contacto visual devido à baixa estatura e a multidões? Além disso, adoro ir ver concertos com ele. Quando nos desencontramos é relativamente fácil descobri-lo no meio da maralha de gente.
Mas é mesmo bom fotógrafo. Além de bom professor, bom mentor e bom amigo.
Que homenagem esta, ein? Não estavas à espera, pois não, Tó?

Resumindo: tenham inveja. Tenham inveja de quem admiram e queiram ser como eles, ou melhores, nunca deixando de ser vocês mesmo. Tenham inveja porque ao terem inveja estão a aprender com o invejado. Tenham inveja e assumam-no, não com malícia e falso desprezo, mas com sinceridade e admiração. Tenham inveja de alguém porque provavelmente alguém também terá inveja de vocês e isso é impagável.


Fotografia e texto: L. Romudas

3 comentários:

Ana Dionísio disse...

O Tó por esta altura deve estar completamente babado, e tem razões para isso. Subscrevo as palavras deste post, completely!!
jocas :)

Hélder Figueiras disse...

Quem é o Tó??

António Pedro Valente disse...

Bom sem duvida que fico muito contente por ouvir tais palavras, e ainda mais contente por saber que assumiste a inveja como sendo por veses algo construtivo e partilho da tua opinião. Quantos não são o que invejo! por isto ou por aquilo, o que é importante é sabermos para que queremos determinada coisa e como transforma-la para que nos seja util. Se não fosse a "inveja" ainda hoje não tinhamos saido da Pre-história. Um Abraço e continuação de boas fotos.