sexta-feira, agosto 29, 2008

Best Bad Guys #4

Kevin
Sin City

Coisas da vila...

Como é sabido, o Jardim Municipal de Arraiolos foi remodelado há já uns anos. Onde dantes existia uma massa labiríntica de canteiros e bancos de jardim, agora estende-se um fresco tapete de relva sombreado pelos velhíssimos plátanos, ainda com o velho coreto ao centro, e flanqueado por uma passagem pedonal (outrora uma rua com trânsito automóvel) onde a grande maioria das crianças treinam as suas habilidades nos patins, nas trotinetes ou nos triciclos. Ainda voltando ao tapete de relva: faz imenso sentido ter um local destes à mão de semear durante os dias de Verão. Podemos refrescar-nos na sombra e na humidade do relvado. Podemos brincar com o cão enquanto apreciamos as "street races" de triciclo ou patins. Podemos deitar-nos a desbastar um bom livro, ou mesmo um mau. Pode-se fazer muita coisa. Ou não.

Neste jardim, renovado, agradável e convidativo vive uma criatura hedionda, demoníaca e... suja. Dá-se pelo nome de Passer domesticus e é conhecido entre as gentes da vila como "pardal dum cabrão". São às centenas. Aos milhares. Sem querer exagerar diria mesmo que são às centenas de milhares de milhões. Ao pôr-do-sol fazem um barulho que não fica a dever nada a um estádio (daqueles grandes) cheio de bebés a chorar em simultâneo. Diga-se ainda que a quantidade de resíduos fecais produzido por um e por outro também não difere muito. O que difere mesmo é que os pardais não usam fraldas e os bebés não sobrevoam o meu carro. E quais são as consequências disto? Ninguém estaciona o carro num parque com cerca de 10 lugares (o que para esta vila é muito lugar de estacionamento), ninguém se vai deitar para a relva e ninguém deixa os filhos brincarem num jardim com dois dedos de merda de pássaro no chão. E as autoridades, não limpam a coisa? Limpam pois. Limpam a passagem pedonal de manhã (com uma máquina de pressão de água) e à tarde está precisamente na mesma. Quanto à relva pouco há a fezer, obviamente.

A parte caricata (uma delas) é que, lendo várias tabuletas colocadas pelas autoridades, ficamos a saber que não podemos passear o nosso cão (ou outro cão qualquer) na relva. Ainda que façamos como as pessoas civilizadas do resto do mundo e apanhemos o dito "presente", PIMBA!, apanhamos com a multa. Onde? Mesmo nas nalgas, como o outro. A questão é: será preferível um jardim com merda de meia dúzia de cães (que não é nada transcendental para qualquer varredor de rua) ou com merda de 5000 pássaros?

Seja qual for a resposta a coisa vai dar ao mesmo: o jardim está a ficar inabitável. Até os habituais pensionistas começam a debandar. Quando vier o Outono e as folhas dos plátanos caírem os pássaros também desaparecerão, sim senhor, mas com frio e chuva quem é que vai utilizar o jardim?! Eu até gosto muito de animais, a sério, mas cá para mim, muito sinceramente, era apontar uma espingarda para as árvores e fora chumbo! Embonecavam o evento com a expressão "controlo populacional" e ainda se petiscava qualquer coisa. Eu levaria o vinho, claro.

quinta-feira, agosto 21, 2008

Deus o tenha e o conserve: LeRoi Moore (1961-2008)


O que é que haverá para dizer sobre este gajo? Nada que me lembre. Pouco importa que tenha sido um dos fundadores da Dave Matthews Band, um grande saxofonista, um bom pai ou marido, um gajo às direitas ou às tortas, um bebedolas, um abstémio, que torcesse pelos Giants ou pelos Yankees. Nada disso importa. Em última análise nem sequer importa o facto de ter morrido. O que importa mesmo é o legado que deixou. E até sobre isso não tenho grande coisa a dizer. Hoje não. Num outro dia talvez, hoje não.




Dave Matthews Band - The Warehouse
Central Park Concert

quarta-feira, agosto 20, 2008

Best Bad Guys #3

The Devil
Constantine

segunda-feira, agosto 18, 2008

What are you?


"Voilà! In view, a humble vaudevillian veteran, cast vicariously as both victim and villain by the vicissitudes of Fate. This visage, no mere veneer of vanity, is it vestige of the vox populi, now vacant, vanished, as the once vital voice of the verisimilitude now venerates what they once vilified. However, this valorous visitation of a by-gone vexation, stands vivified, and has vowed to vanquish these venal and virulent vermin vanguarding vice and vouchsafing the violently vicious and voracious violation of volition. The only verdict is vengeance; a vendetta, held as a votive, not in vain, for the value and veracity of such shall one day vindicate the vigilant and the virtuous. Verily, this vichyssoise of verbiage veers most verbose vis-à-vis an introduction, and so it is my very good honor to meet you and you may call me V!"


V, in V for Vendetta

Best Bad Guys #2

Anton Chigurh
No Country For Old Men

quinta-feira, agosto 14, 2008

Best Bad Guys #1


The Mouth of Sauron
Lord of the Rings - The Return of the King

E fotografias, pá?! Ondéquelastão?!

O pá, então as fotografias estão em dois sítios: umas bem guardadinhas e quietinhas no computador e outras à espera de serem definitivamente transpostas do mundo visível para intermináveis sequências de zeros e uns. A verdade é que o tempo necessário para tratar as primeiras e tirar as segundas tem sido ocupado com outras actividades, umas mais interessantes, como projectar casinhas a três dimensões; outras bem menos frutíferas mas extremamente necessárias, como dar abadas das antigas à minha CPU no Pro Evolution Soccer. E esta última é extremamente necessária porquê? Porque é a minha bola de stress. É a minha sala cheia de porcelanas e o meu taco de basebol. É uma autêntica psicoterapia caseira, mas só funciona se tiver um baixo grau de dificuldade, como "Amateur" ou mesmo "Beginner" (quando me dá para jogar com o Sporting). Mas se por algum acaso o grau de dificuldade estiver inadvertidamente um bocadinho acima do costume, bem... então transformo-me numa autêntica besta. É mais forte do que eu, não sei porque acontece. É como se a minha saudável e pacífica terapia se convertesse na poção do Dr. Jekyll e eu me transformasse num corpulento Mr. Hyde em pleno ataque de raiva. Basta falhar um golo que parece feito, falhar uma desmarcação e um defesa contrário cortar um cruzamento e puf! Sinto logo uma vontade quase, quase, quase irresistível de enfiar um punho pelo TFT adentro seguido de um rotativo à là Jean Claude Van Damme na torre da CPU. Só Deus-Nosso-Senhor-Todo-o-Poderoso sabe a força que tenho de fazer para impedir uma tragédia. Alt+F4 e suspiro. A partir daí, obviamente, o resto do dia é passado aos coices a quem ousa dirigir-me qualquer palavra. "Bom dia", "Ai, sim?! E o que tenho eu a ver com isso, meu real monte de merda?!"

(Confesso que grande parte deste diálogo acontece somente na minha cabeça, para bem do meu dente de porcelana e dos meus óculos colados ao meio)

Pronto, acabaram de descobrir mais um pormenor da minha espectacular vida. Agora arranjem uma para vocês, meus grandessíssimos charoleses... desculpem, leitores, leitorzinhos fofinhos...

quarta-feira, agosto 13, 2008

Momento Biography Channel: Vidocq


Para muitos, Vidocq é apenas o título de um bom filme francês e o nome da personagem principal, um corpanzudo e intrépido detective privado, interpretada por, imagine-se, Gérard Depardieu. Mas Eugéne François Vidocq foi muito mais que isso. Sim, o homem existiu mesmo. A santa mãezinha dele que o diga, coitadinha, que a partir do fatídico 23 de Julho de 1775 nunca mais teve sossego. Por exemplo: passados 14 anos sobre dito esse dia, e sob os auspícios da colonização da América do Norte, o jovem Eugéne resolveu surripiar as economias do pai afim de ir ver como paravam as modas americanas. Perdeu o dinheiro todo ainda antes de sair da Europa e para se livrar de uma sova de criar bicho alistou-se no exército, de onde desertou 17 anos depois por ter partido os queixos a um superior hierárquico, que era, na altura, coisa punível com a morte. Dá-se a Revolução Francesa e o nosso Vidocq vê-se practicamente com a guilhotina no pescoço. O pai pede ajuda à nobreza. A nobreza ajuda. Apaixona-se por uma filha dessa nobreza. Ela mete-lhe os palitos. Ele foge para Bruxelas. Arranja um passaporte falso e junta-se a um grupo de meliantes. Volta a Paris. Esturra a pequena fortuna em putas e vinho verde. Apaixona-se outra vez e leva com outro par de cornos. Apanha o gajo. Prega-lhe um enxerto de porrada e vai para a choldra outra vez. Envolve-se com a malta errada. Foge da prisa. Volta à prisa. Foge da prisa. Tenta ser professor, mas as demasiadamente boas relações que tinha com as alunas levaram a que fosse expulso por pais e namorados furiosos. A ex-mulher chantageia-o. Os amigos metem-no ainda em piores confusões. Decide tornar-se bufo(*) em troca de amnistia. A bófia recusou à primeira mas aceita à segunda e é aqui que tudo muda. Sobe no ranking qual Vanessa Fernandes até que a própria bófia encena a fuga de Vidocq da prisão. Eugéne François Vidocq tornava-se finalmente um dos bons.

Daqui para a frente foi sempre a abrir. Os conhecimentos que tinha do sub-mundo parisiense e os métodos de investigação e abordagem pouco ortodoxos que empregava granjearam-lhe fama e fortuna. Executava ele próprio operações de infiltração (isto em mil oitocentos e tal, portanto, sem escutas, auriculares, GPS e merdas assim) e chegou mesmo a ser contratado para se matar a ele mesmo. Em 1812 Vidocq funda a Brigade de Sûreté, uma espécie de Polícia Judiciária em que a maioria dos detectives eram ex-prisioneiros. Resultado: em 1817 a Sûreté fez 811 detenções. É obra. Em 1832, por politiquices, o homem demite-se do cargo que ele próprio criou e torna-se detective privado e escritor. Morre em 1857 depois de uma vida cheia. Completamente cheia.

Para trás deixa a criação da tinta permanente e de um tipo de papel indestrutível. Foi o primeiro a estudar balística aplicada à criminologia, fez os primeiros moldes de pegadas e os seus estudos antropométricos ainda são em parte usados pela polícia francesa.

Quem diria que um borra-botas que rouba dinheiro ao próprio pai se iria tornar num dos pioneiros da criminologia forense e num dos mais proeminentes chefes de polícia do mundo?!


(*) Até ao fim dos seus dias Vidocq afirmou sempre que nunca denunciou ninguém que tivesse roubado por necessidade. Bufo sim, mas com princípios.

terça-feira, agosto 12, 2008

Premonições

Falta pouco mais de duas semanas para a blogosfera, principalmente nos seus claustros políticos, começar a fervilhar com mirabolantes textos sobre terroristas e drogados na Festa do Avante. Que a culpa é dos brandos costumes portugueses que deixam entrar gentalha das FARC nos limites deste muy nobre território; que a culpa é da polícia que vê carradas de toxicodependentes pavonearem-se na Quinta da Atalaia e cruza os braços (note-se que, para muito bom português, a definição de toxicodependente está directa e claramente ligada com o facto de se usar rastas, vestir roupas coloridas ou ter muitos piercings e tatuagens). Pois então preparem-se para ler os mais estapafúrdios disparates provenientes da santíssima ignorância que pulula um pouco por todo o lado, mas particularmente, e com muito mais força, nas "iluminadas" cabecinhas dos arautos da neo-burguesia. Preparem-se, é o que vos digo.
Já comecei a ensaiar as gargalhadas.


segunda-feira, agosto 11, 2008

New-Found Lands: Ani Difranco



Ani Dfranco - Shy

sexta-feira, agosto 08, 2008

Hiroshima: 63 anos e 2 dias


N. do B.: Gostava muito, bem, vá, gostava mais ou menos de vos dar o link da página de onde saquei isto, mas acontece que não faço a mais pequena ideia... Paciêncinha é o que é preciso.

quarta-feira, agosto 06, 2008

Oh não... Outro blog com uma fotografia do Joker!



Pois, 'tá bem, mas não resisti. Ontem vi o Dark Knight e não consigo evitar rever mentalmente todas as cenas do Joker. O olhar lunático, os trejeitos faciais, os estalidos bucais, a língua irrequieta, os cabelos oleosos, a maquilhagem desbotada, o caminhar vagabundo. Simplesmente não consigo evitar. Não tem a ver com o hype (até porque desconfio muitos dos hypes) gerado à volta da morte de Ledger, tem sim a ver com a realidade. Com este filme Heath Ledger prova ao mundo inteiro que iria ser um grande actor. Pelo menos foi-o com este Joker. O resto do filme é mediano, nunca genial ou brilhante, simplesmente aceitável. E só não é tão mau, ou melhor, só não acho que seja assim tão mau como diz o Marco por culpa do elenco (o que haverá para dizer de Freeman ou Caine?) e do realizador. De Cristian Bale também não há nada a apontar. É um bom Batman/Wayne e ponto final. Não sei se é o melhor, mas é muito bom e cumpre bem os papéis.

As adaptações cinematográficas de bandas desenhadas não são tarefa fácil, e quando o são saem valentes bostas. Nolan mostrou mais uma vez (gostei do Batman Begins) ser bastante competente mantendo sempre o jogo escondido e revelando as cartas uma a uma, sem deixar que o espectador preveja muita coisa antes de realmente acontecer. Nota positiva também para os embates corpo-a-corpo que estão num nível dinâmico mas humanamente possível... acho eu. O que lhe falta é umas dioptrias de "Visão Tim Burtoniana" de Gotham City. A Gotham de Burton é fabulosa. Sombria, suja, impura, parece um franchising do Inferno em plena Terra e isto mesmo sem vermos um único habitante. A Gotham de Nolan parece uma cidade como outra qualquer, Sydney, Chicago, Vancouver ou mesmo a zona empresarial do Rio de Janeiro. Gotham City é Gotham City, tal como Basin City é Basin City. São únicas, não só pelo facto de fazerem parte do imaginário BD, nem só pelos seus peculiares habitantes. São únicas também pela sua arquitectura, pelo seu microclima, pelo seu smog, pela malignidade impregnada nas paredes e no alcatrão das ruas. Pela escuridão que reina pelas ruas de ambas mesmo que seja meio-dia em meados de Julho.
Na minha opinião bastava Christopher Nolan ter pedido ajuda a Burton (tal como Rodriguez pediu a Miller e Tarantino em Sin City) para Dark Knight ser, não só um sucesso de bilheteiras, mas um filme brilhante e genial. Assim o Joker de Heath Ledger foi desperdiçado num filme bom/mediano e já não há mais nenhum. E é pena.


N. do B.: Isto não é uma crítica. É uma nota do que penso sobre este filme em particular. Não é uma crítica porque isto não é um blog de críticas, apesar de às vezes, muitas vezes, parecer o contrário. Não há aqui ninguém com habilitações para ser crítico. O que há é um espectador que gosta de, e pode, dar a sua opinião. Muito obrigado e boa noite.

sexta-feira, agosto 01, 2008

Their problems start when they don't die young?



Isto foi em Outubro de 2006. Jerry Lee Lewis com 71 primaveras no papo, com acordes mais espaçados, com movimentos tolhidos; mas ainda com a mesma voz e o mesmo olhar de 1957. Imagem de decadência? Sim, claro. Até se pode pensar que o homem já devia ter morrido para não andar a fazer aquelas figurinhas. Que é triste ver um gajo outrora tão frenético agora mal conseguir mexer os braços. Enfim, está velho. É um velho como outro qualquer, sim. Se não se chamasse Jerry Lee Lewis provavelmente estaria a jogar à sueca ou ao dominó num simpático jardim cheio de plátanos e salgueiros-chorões.

Perdendo a juventude perde-se a aura sobre-humana que as estrelas de rock têm desde que passam a essa mesma condição. Jerry Lee Lewis já não é uma estrela de rock, não senhor. É uma supernova. Jerry Lee Lewis é o "Last Man Standing". É o último sobrevivente do quarteto dourado. É o último sócio/fundador/embaixador vivo do rock & roll. E por isso, e também por ter incendiado um piano em palco enquanto tocava exuberantemente a Great Balls of Fire, deveria ser-lhe concedida uma licença especial de estadia entre os vivos ad aeternum. E de preferência com a genica de 1956/57.