quarta-feira, junho 20, 2007

Texto revolucionário

Este texto era para ser revolucionário. Era suposto ter uma qualquer revelação bombástica que fizesse o leitor explodir de entusiasmo. Era suposto ter uma daquelas revelações tão simples que nunca pensámos que seria possível algo tão complicado ser assim tão simples. Tinha pensado num texto em que essa tal revelação se formasse na mente do leitor como por encanto, sem ele se aperceber, para depois ficar boquiaberto durante uns segundos enquanto reflectia sobre o assunto. Era para ser um daqueles textos que ficam na primeira página de um blog durante semanas seguidas, e em que a caixa de comentários se transforma num fórum ou até numa sala de chat, lenta e aborrecida, mas fervilhante de opiniões construtivas e boas ideias.
Estão a ver o estilo?

Epá, isto ia ser um texto mesmo revolucionário!
Mas afinal nunca passou disso mesmo: do “ia ser”.
Eu, por exemplo, ia sendo arquitecto, mas só consegui chegar ao 12º ano, com uma média miserável e sem a matemática feita. Tal como este texto, o ideal era bom, mas a sua realização nunca passou de uma tremeluzente miragem.
Podia ter-me esforçado e ter feito a matemática, não é? E também podia ter-me esforçado e ter pensado numa ideia brilhante para elevar este texto ao estatuto de “texto revolucionário”, que era essa, afinal, a razão da existência deste dito cujo. O problema é que estou cansado. Extenuado, esgotado, exaurido fisicamente, o que se reflecte de sobremaneira na minha capacidade imaginativa, e penso, assim acontecerá com todos. A verdade é que este texto não é revolucionário simplesmente porque as condicionantes exteriores a ele não lho permitiram ser.

É, contudo, um bom texto. Bem redigido, bem pontuado, fluído, enfim, bem construído. E mais importante que tudo: existe. Sem grande conteúdo à primeira vista, é certo, mas existe. No entanto, não é à primeira vista que nos apercebemos da verdadeira natureza das coisas, pois não?

E aqui está a desejada revelação: este texto lembra-me todas as pessoas que conheço.
Lembra-me, principalmente, a mim mesmo.

4 comentários:

Hélder Figueiras disse...

Viva lá revolution!! Compadre!!

R disse...

Será um texto em que os pensamentos revolucionários se escondem nas entrelinhas? Ou será um texto que é revolucionário por criticar os revolucionários que ainda não fizeram revoluções?

L. Romudas disse...

50/50

Anónimo disse...

Tu...
Tu...
Deixa-me pensar...
Espera só mais um pouco que estou a...pensar...
Lá tás tu com a mania das pressas...
Péráí.
Axo...
Acho que tu... tens estilo!!
Pronto.