Segundo os seus cálculos já deveria ter chegado. Por esta altura já deveria ver a bom ver a parede de frondosa vegetação erguer-se das inertes areias desérticas. Por esta altura já deveria ouvir o resfolegar de inúmeras cascatas de água fresca e os histéricos gritos de babuínos alarmados sobreporem-se ao silêncio sepulcral daquele infinito mar de areia. Nem por um segundo se desviou do seu caminho, nem por um segundo tirou os olhos das estrelas que o haviam de levar ao seu Paraíso no meio do Inferno. Então porque raios se encontrava ele há tanto tempo, aparentemente, perdido naquela desolação?!
Ao longo do caminho havia-se cruzado com muita gente, muito boa gente as gentes do deserto, viajantes como ele, mercadores, turistas, até guerrilheiros, mas tudo boa gente, sem dúvida, porque no deserto não há espaço para más inclinações. As más inclinações matam, especialmente num local tão inclemente como aquele, e todos os que por ele caminharem têm de se ajudar mutuamente. É a Regra. E essas gentes do deserto seguem a Regra à risca: já viram inúmeras vezes o que acontece a quem a quebra. Portanto, o Viajante havia sido ajudado por quem encontrava. Deram-lhe indicações, comida e água, tinha mesmo sido encorajado a continuar a sua empresa, apesar de não ter encontrado ninguém que tivesse estado naquele oásis. No seu Oásis. Então, como sabia ele da existência do Oásis ou da sua localização? Nem ele sabe como o sabia, mas sabia. Toda a gente tem um oásis e ele também haveria de ter o seu. Só tinha de o encontrar. Preferia passar a vida inteira à procura dele do que desistir, definhando lenta e eternamente nas escaldantes dunas de areia branca até, eventualmente, se transformar em mais um grão daquele ínfimo e ínfame ermo. Porque é isso que acontece a quem desiste. Diz-se que quem desiste nunca morre. Ao invés disso é troçado e humilhado pelos deuses que se divertem com o torturante sofrimento de quem não pode morrer. A Morte é um prémio demasiado bom para quem desiste.
(to be continued... or not)
0 comentários:
Enviar um comentário