segunda-feira, janeiro 14, 2008

A segunda fita de 2008 - Barry Lyndon

O filme é velho, de 1975, e o romance original ainda mais, de 1844. Mas não se nota. A história da ascensão e queda de Redmond Barry Lyndon podia ser adaptada a qualquer época histórica e filmada em qualquer altura, desde que fosse realizada, como foi, por Stanley Kubrick, que transforma uma história mediana em algo que roça o excelente. A história é simples: jovem de média classe aspira às altas esferas da sociedade, e, apesar de conseguir lá chegar, não consegue manter o estatuto. O filme está mesmo dividido ao meio com a a palavra "Intermission". A primeira parte trata da ascensão, a segunda da queda. Como disse, uma história mediana. O que me fascinou no argumento foram as personagens e o elenco escolhido para as representar. Não há personagens boas nem más. Todas têm as suas razões para fazer o que fazem e, se num momento (por exemplo) podemos censurar Barry por ter espancado o seu enteado, no momento seguinte apetece-nos fazer o mesmo (ver video abaixo). O que me agradou no elenco é que não há gente demasiado bonita. As personagens demasiado bonitas são inverosímeis, e Kubrick sabe disso. Na verdade conseguiu uma perfeita sintonia entre personagens e intérpretes.



Inspirado pelos pintores da época, Kubrick, compôs cenários campestres tão assombrosos como simples e naturais. Tira partido das linhas rectas dos luxuosos palácios do século XVII para transmitir, ora a solidão e inutilidade de um palácio gigante ocupado por uma mão cheia de pessoas, ora a opressão que toda aquela opulência e futilidade faz cair sob o ombro das personagens. Reza a lenda que Alcott, o director de fotografia, terá encomendado um conjunto de lentes especiais à NASA que lhe permitissem filmar uma cena apenas com luz de velas. Não consegui confirmar a veracidade disto (o que sei veio da Wikipedia), o que é certo é que essas cenas estão muito bem filmadas, tão bem filmadas que é quase possível sentir o cheiro adocicado da cêra quente. E quem usa tão bem a luz também sabe usar o som. Joga mais com os silêncios do que com banda sonora, atirando a "realidade" da acção à cara do espectador, mantendo-o bem acordado e atento apesar da fleuma que caracteriza este tipo de romance.

Em suma, é um excelente filme, mas não sublime, simplesmente porque há poucos filmes sublimes e este não é um deles. Não é indispensável, mas é muito, muito interessante, ainda para mais para um aprendiz de fotógrafo. A Time diz que é um dos 100 melhores de sempre e a Academia deu-lhe quatro Oscares. Bem, não tenho razões para discordar.

Leva 4,5 de 0 a 5.

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